Uma Trupe Francesa

la villa

Fui assistir ao filme Uma Casa à Beira-Mar (La Villa, 2017), do diretor Robert Guédiguian. O mesmo diretor do filme As Neves do Kilimanjaro. Um filme simples e bonito.

A vila é de Marselha, “o centro do mundo” para essa trupe francesa: o diretor e os principais atores. Trabalharam juntos em muitos outros filmes. E são de Marselha mesmo. “Se queres ser universal, fale de sua cidade”. A frase é de Tchecov, e parece ser o lema da trupe. Em 1997, fizeram Marius e Jeannette, sendo aplaudidos por mais de vinte minutos no festival de Cannes.

Uma Casa à Beira-Mar mostra uma vila praticamente abandonada, agonizante devido à crise, mas que ainda respira. Como o personagem do pai que, após um derrame, está acamado sem esperanças de melhora. O acidente provoca o retorno dos filhos, das feridas do passado, das frustrações. Somente nas lembranças a vila fica iluminada.

Como nos filmes anteriores, o diretor encara os problemas sociais atuais, sem bandeiras, mas com firmeza: o racismo, o operariado, os refugiados.

Com uma visão humanista, os refugiados chegam com suas histórias tristes, resistentes, lutando pela vida. Parte da cidade, governo, exército, encara-os como problema, perigo. No filme, bálsamo, esperança, renascimento.

Robert Guédiguian – cineasta, roteirista, produtor e ator francês – teve ligações com a classe operária. Seu pai era um trabalhador das docas de Marselha. Robert esteve envolvido com o Partido Comunista Francês. Foi produtor do filme O Jovem Karl Marx.

Uma Casa à Beira-Mar tem falas poéticas, humor, ceticismo, busca. Fala de perdas. Que a juventude de hoje “tem o cérebro de direita e o coração de esquerda”. E tem uma cena linda. Um pescador se recorda da primeira vez que foi ao teatro: “eu não sabia que se podia fazer aquilo”; inventar realidades.

Saí leve do cinema.

No trajeto de volta para casa, que fiz a pé, as cerejeiras em flor.

Léo