gosto de mim assim desajeitada que qualquer poema pode me dar asas ou sucumbir assim Léo
Tag: Poema
Tropeço
tropeço em pensamentos povos originários que cantam porque plantam que cantam porque colhem cantam e dançam porque pertencem ao cosmos que comem seus inimigos em sinal de respeito lapso de tempo como comer um médico que deveria transportar a cura e é o portador do veneno? como devorar uma sociedade que transforma o professor - "transformador do futuro" - em puxador de riquixás? lapso de tempo Julião da Ligas Camponesas conclamando o tremular das enxadas símbolo do trabalho e como arma como a foice e o martelo Léo
derrame
pedaços, fragmentos, cacos a ponta do iceberg manchete sem ler a notícia tempos modernos para quê perder tempo em anos de estudo, se a dancinha no TikTok é mais garantia? e a fome pulsando em meio à obesidade verdades ditadas em minutos de autoajuda as palavras, sequestradas e o menino continua se virando nos sinais Léo
capital
há um deus sim tentando abarcar todos os rincões da Terra com sua lógica mercantil um deus que sonha com sua extensão ao Universo onipotente, onisciente, onipresente, transforma tudo e todos em marionetes negociantes, seus discípulos ora chamado de mercadoria, dinheiro destino acumular é seu verbo infinito transveste-se de ciência, arte, religião fluindo pelas igrejas e templos apresenta-se como essencial, fundamental sempre foi e sempre será seu grande truque é alegar eternidade e nós "apenas imagens inúteis" de criatura, criador se, se corta sua cabeça mas esquece-se do coração, brota de novo há um deus sim, e, contrariando o imposto, morte ao que nos mata! Léo
artista
no "mundo girassol", ver além, ver aquém, ver o que ainda não existe mergulhar em águas profundas e voltar Léo
leitura
ler estrelas no céu, um corpo, luz as entrelinhas, um gesto, um sorriso alegre ou de escárnio identificar Diadorim assassinada todos os dias e ainda cair em prantos decifrar um poema que conta a própria dor e não se sentir só saber que o livro é um produto, uma mercadoria, e ler além. a mercadoria questionando o mundo dos negócios leitura de outro ponto de vista, povos, cultura, como se fosse um parente, um amigo, um amor percorrer uma orquestra e sentir que, se a humanidade parasse para ouvir, guerras cessariam e a bailarina, contando sua história em movimentos curaria nossas feridas deslizar de mansinho, com sofreguidão, páginas e mais páginas e, quem não tem caderno, grita nos muros Léo
rima
a liberdade, algumas vezes, rima com solidão não sei por quê quanto mais livre mais a solidão se solidifica não sei por quê talvez a tal síntese perseguida - às vezes - se dê assim: meio capenga, meio robusta numa alegria triste não sei por quê porque há um oco, um vazio, uma fúria, um trovão Léo
Abatido
mundo doente massacrando sonhos, negros, pobres, mulheres a possibilidade usurpada e eu não me sinto muito bem inocência, anjo abatido ingenuidade, anjo abatido solidariedade, anjo abatido e uma vizinha me contou de um pombo que ela cuidava morreu de saudade de uma pomba Léo
Chuva
um homem cruza o parque apressado guarda-chuva, sombrinha, capa abrigo chuva que lava, chuva de pedra, como labaredas de um dragão em fúria em vingança aos mineradores minando um mundo fraterno céus enfurecidos com tamanha pretensão Léo
Golpe de ar
há algo de estranho acontecendo nessas terras lagartos se fingem pedras garças acuadas já não voam mais fardas trucidam inocência há algo de estranho nessas terras messias, ofuscando alternativas, carregam em suas mãos "as velhas formas de viver" deuses fogem apressados há algo de muito estranho acontecendo nessas terras yanomamis, uirapurus, o golpe já foi dado Léo