“Faça o que se deve, aconteça o que acontecer”. (provérbio francês citado por Leon Trotsky, Minha Vida).
Um dia desses assisti um filme norueguês fraco. Mas em determinada cena que se passava em 1919, numa acalorada discussão sobre a Revolução Russa, uma mulher diz: “Trotsky é um líder do futuro”.
Não é fácil escrever sobre Minha Vida de Leon Trotsky (Editora Sundermann). Parece um livro de aventuras: têm fugas mirabolantes, um exército comandado via um vagão de trem, passagens por diversos países da Europa e Estados Unidos. Parece uma boa literatura: livro bem escrito prendendo o leitor com bons ganchos em cada capítulo, recheado de trechos muito engraçados. Parece um desfile de pessoas heroicas; de cada um você quer saber mais; verdadeiras personagens de ficção. Larissa Reissner é uma delas: ocupou um cargo importante no V Exército, “uma mulher maravilhosa (…), cruzou pelo céu da revolução, em plena juventude, como um cometa em chamas. Sua figura de deusa olímpica unia uma fina inteligência, aguçada pela ironia, à bravura de um guerreiro” (p. 480). Foi espiã do Exército Vermelho, escreveu páginas admiráveis, pintou a indústria dos Urais e o levante dos operários. “Procurava saber de tudo, conhecer tudo, intervir em tudo”. Tem poesia. Tem reflexão. Enfim, um ótimo romance.
Porém, não se limita a isso. Nem é seu objetivo principal. Escrito em 1929, este livro foi construído para rebater as calúnias do Stalinismo e denunciar a revolução traída. E, como afirma a Nota dos Editores: “Trata-se da defesa e do resgate da verdade histórica sobre outubro de 1917” (p. 15). E cumpre muito bem esta tarefa.
Das entranhas do tempo, a humanidade forja suas sínteses. Suas respostas: Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Sem Marx e Engels, dificilmente teríamos Lenin e Trotsky. Sem Lenin e Trotsky, dificilmente Marx e Engels se efetivariam. Práxis. A vida individual concatenada com a vida coletiva. A história de um homem que vive e constrói uma revolução única: a tomada do poder pelo proletariado, pelos sovietes. “Não posso negar que a minha vida não foi das mais ordinárias. Mas é preciso buscar as causas disso nas circunstâncias da época e não em mim mesmo. Obviamente, existem certos traços pessoais que me permitiram desempenhar, bem ou mal, os papéis que desempenhei. No entanto, em outras circunstâncias históricas, essas características pessoais facilmente fariam o leitor cochilar (…)” (p. 29).
Dentre tantos aprendizados, quero destacar alguns. A Rússia era um país violento, repressivo, e com muitos, muitos suicídios. Ao mesmo tempo é um mundo: com quase 200 grupos étnicos e povos indígenas, o maior território do planeta, muitas línguas e dialetos. Outra questão é um jogo de tempo que Trotsky faz: o que a pessoa é no momento narrado e o que se tornou anos depois, principalmente depois da revolução. Sua relação com Lenin também é muito inspirador. Ele o admira. Lenin era um homem de grande paixão moral, grande pensador, observador e estrategista, escreve Trotsky. “Lenin não era de se preocupar muito com estética da revolução nem de saborear seu ‘romantismo’; mas a sentia com tanta intensidade, que era como se a ‘farejasse’” (p. 404). “Via nele um mestre. O que não quer dizer que me dedicasse a imitar sem mais nem menos os seus gestos e suas palavras. Não, quando digo que via nele um mestre, digo que aprendi com ele a chegar, por minha própria conta e com os olhos abertos diante dos fatos, às mesmas conclusões que ele costumava chegar” (p. 464). Quem teve alguma experiência em militância política consegue facilmente entender a força do proletariado russo para defender a revolução. “Quando a classe operária se dispunha a lançar-se à luta, estava possuída por um entusiasmo indescritível” (p. 389). Minha experiência pessoal, talvez a de maior peso, foi à greve dos funcionários do Banespa, em 2000, contra a privatização. Lembro-me desses funcionários do sistema financeiro, muitas vezes apáticos e cabisbaixos, transformarem-se – na rua, em greve – em guerreiros felizes tomando a história pela mão. Sim, é possível.
Hoje o PSTU lança à classe trabalhadora, juventude, movimentos populares, uma convocatória para rebelar-se. A burguesia e grande parte da esquerda brasileira, perante uma crise profunda, insistem no velho caminho da democracia burguesa, as eleições. O PSTU encoraja a classe para construir seu próprio caminho. A palavra REVOLUÇÃO ecoa novamente. “Fazer o que se deve”.
Olhando hoje para LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), PSTU, a nossa classe em luta, penso comigo: “Não se preocupe Leon: aqui estão os seus soldados”.
Léo