Folheando ao acaso uma revista antiga, deparo-me com um fato que parece arte.
Uma mulher, mãe de duas filhas, formada em Letras, em um casamento abusivo. O marido a agredia sistematicamente. Não por agressão física, mas a verbal. Agressão invisível. Ele, o provedor da casa. Ela, sem alternativa.
A mulher começa um trabalho com moradores de rua. E se apaixona por um, Fábio. Ele, sem bens materiais, lhe oferece o invisível: amor, compreensão, carinho.
Ela abandona o “conforto do lar”, o pão certo, o banho certo, os móveis, o endereço fixo. Vai para os braços aconchegantes do morador de rua. Entra na dimensão deste enorme exército invisível, sem endereço fixo.
A mulher ajuda Fábio em seu processo de recuperação. Ela presta um concurso público para trabalhar com os moradores de rua. Para sua surpresa, é aprovada. Porém enfrenta uma barreira: precisa abrir uma conta bancária para receber seus proventos. O banco exige um endereço de residência. Ela, rua tal, número tal, complemento: calçada.
Olhei sua fotografia de página inteira: bonita, cheia de anéis e tatuagens. Sorriso largo. A estampa de uma guerreira, que lutou por amor e respeito, que se entregou. A antiga estudante de literatura, que não escreveu um livro, escreveu sua própria história.
Teus olhos tinham algo raro: esperança. Teus olhos tinham luz.
Léo
Nossa, que bom começar o dia com uma história dessa! Obrigada
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Nossa, que bom começar o dia com um comentário desse! Obrigada!
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