cabelos em neve

A senhora arcada sobre a bengala atravessa a rua em passos tímidos. A cabeça como que coberta de neve em seus cabelos curtos. Bermuda fresca, blusa fresca, próprias para uma primavera com jeito de verão escaldante. Quase final de tarde. Na mão, uma pequena sacola.

A senhora de bengala chama um nome no portão. Uma mulher também de cabelos em neve a atende. A senhora entrega a sacola com alguns limões do limoeiro de seu quintal, lamentando que eram poucos, mas eram os que tinha. Quase ao mesmo tempo pergunta para a outra se sabe que seu filho morreu. Sim, responde. Os olhos das duas marejam em lágrimas. Duas mães que compreendem a dor da perda de um filho. O que é ser mãe sem o filho?

A senhora de bengala explica sua dor exigindo explicações da vida: por quê seu filho com um filho, tão moço, recém-casado, morre, e ela, tão antiga, permanece viva? Olha para o céu querendo o retorno. O retorno de seu filho, seu companheiro, que a visitava todos os dias.

A mulher de cabelos em neve não tem nenhuma resposta. Segura a mão da senhora de bengala e a aperta forte. Fecham os olhos, as duas mulheres de cabelos em neve. Quietas. Uma energia traspassa seus corpos.

O filho não retornou. A vida não deu nenhuma explicação. No entanto, duas mulheres de cabelos em neve se compreendem. Entendimento.

A mulher volta para dentro de casa.

A senhora arcada sobre a bengala atravessa a rua em passos tímidos.

Léo

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